segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

JORNALISTAS E WIKILEAK

Bem sei que vários jornalistas manifestaram já claramente o seu repúdio por esta prática de tudo tornar público, mesmo o impublicável.
Hoje, porém, perante estes avassaladores exemplos de seriedade de alguns profissionais, espantou-me ver todos os jornais e telejornais cheios de notícias sobre bancos portugueses, Embaixadores norte-americanos, Base das Lajes, Guantanamo, espionagem para o Irão, etc. Um ramalhete lindo de alarmes, que nos foram oferecidos por jornalistas com os habituais olhos muito abertos, cara seríissima, ar de tragédia, acenos seríissimos de cabeça, afirmativos!
Confesso que não percebi.
Os jornalistas estão doidos? Estão a passar um atestado de estupidez, incompetência e alarvidade a si próprios?
Basta seguir a lógica: ou as notícias da Wikileaks são jornalísticas, ou não o são!
Se não o são, é obsceno estar a abrir telejornais com o assunto. Ponto final! Obsceno. A menos que se concorde que o fim máximo do jornalismo não é a verdade, mas sim a obtenção de audiências, seja a que preço, com o consequente lucro dos donos das empresas de media. Se fosse a verdade o fim último da profissão, algo que não merecesse critério jornalístico em princípio não seria sequer aflorado, por ser coscuvilhice, brigidavazice.
Partamos então de princípio - para não julgarmos que o jornalismo (não só o nosso: o mundial!) atingiu o estado de lixeira - que a coisa é validada pelo tal critério jornalístico, pela procura da verdade, pela impoluta clareza. É algo importante de se saber!
E é aqui que creio que todos os jornalistas estão a dar uma triste figura de incompetência. Porque, se estes factos interessam, não deveriam ter sido os próprios jornalistas a revelá-los, e há já muito tempo? Não se pagam equipes de investigação? Não existem enormes quantidades de palavrosos especialistas em assuntos económicos, de guerra, de paz, de cinema, de cozinha, de livros, etc., etc., etc. Que andam eles a fazer?
Então se é importante para um país saber - em dramáticas aberturas de telejornais - que há bancos portugueses a querer fazer espionagem para os EUA, e outras alarmidades destas, não deveriam ter sido os jornalistas a expôr estas coisas, e há muito tempo, repito? Todas as informações (milhares!!!!) que têm vindo a lume na Wikileak e aproveitadas por jornalistas (que, assim, as consideram válidas, pois de outro modo, repito, seriam piores que putas, só pensando na audiência, logo no lucro) não deveriam ter sido investigadas, procuradas, elucidadas, analisadas ... por jornalistas?
Quer dizer: estes agora deixaram de fazer trabalho de investigação? Assumem, com o constante remoer nas wikileakices, o seu estatuto de indigentes? Tudo lhes passa ao lado? É preciso que alguém ponha algo na net para se saber? É que para fazer o que eles fazem (ler coisas da net) creio que não será preciso tirar curso algum.
Sei lá, é só uma dúvida...

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